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domingo, 8 de julho de 2012

Motoristas de ônibus criam kit incêndio por causa de onda de ataques a coletivos

Ônibus urbano parado em ponto final à noite na cidade de Santo André. Série de ataques a coletivos tem despertado medo na população em especial nos motoristas e cobradores de ônibus. Alguns criaram kits incêndio, com documentos presos ao corpo, para escaparem mais rapidamente dos veículos sem perderem a documentação e não terem dor de cabeça. Na permanência da reportagem num veículo, rádio do motorista tocava alertando para mais um incêndio que ocorria distante, na zona Sul de São Paulo. Informação é arma da categoria. Foto: Adamo Bazani. Motoristas de ônibus criam kit incêndio por conta de ataques a coletivos em São Paulo ViaSul retirou ônibus de circulação da capital paulista depois de ataques ADAMO BAZANI – CBN Toca um sinal de rádio. Eram por volta das nove e quinze da noite desta quarta-feira. “Chapa, chapa, atenção….mais um na zona Sul” A mensagem tratava-se de um alerta que um motorista de ônibus da Capital Paulista dava a um colega que estava parado no ponto final de um a linha em Santo André. Este repórter voltava de um tratamento médico quando ao final da viagem foi se despedir do motorista, conhecido já de um tempo, e foi surpreendido com o alerta. “É sempre assim quando tem estes ataques. Todos nós ficamos com medo”. Poucos minutos depois, parou um ônibus da mesma empresa, mas de outra linha no ponto final. O motorista saiu correndo e falou para o colega “Ta sabendo da Via Sul?”. O profissional se referia a empresa que estaria recolhendo alguns ônibus antes do previsto pelo medo dos motoristas em relação aos ataques que são uma tentativa de uma facção criminosa de São Paulo, que teve origem em presídios. Desde a noite de terça-feira até o fechamento desta matéria, doze ônibus foram queimados na Capital e na Grande São Paulo, e desde o dia 12 de junho, sete policiais militares foram assassinados. A ViaSul, uma das empresas vítimas dos ataques, restringiu as operações em 43 linhas, afetando inclusive os serviços no Terminal Sacomã, na Capital Paulista, O clima é de medo entre os motoristas. “Bandido fica livre pra queimar ônibus e matar policial. A gente que é trabalhador é que tem medo” – disse o cobrador do segundo ônibus no ponto final. A reportagem apurou que os motoristas de ônibus têm feito uma espécie de kit incêndio. Trata-se de pochetes e ou pequenas bolsas presas ao corpo, mesmo com o motorista ao volante trabalhando. Nelas, o essencial: documentos pessoais, carteira de habilitação (que é o ganha pão do motorista) e telefone para contato com a família. “Eu uso essa pochetizinha porque se vir vagabundo querer botar fogo, eu saio correndo e não fico no prejuízo. Vão que não dá tempo de pegar os documentos” – disse um dos motoristas. “Eu também tou com todo os documentos aqui nesta sacolinha” – disse o outro profissional se referindo a uma embalagem plástica que ele tinha sob a camisa. CLIMA DE MEDO: Se dirigir ônibus urbano em São Paulo ou na Grande São Paulo já é estressante e perigoso, por conta do trânsito complicado, em regiões onde o poder público não dá prioridade aos transportes coletivos, por causa de assaltos ou da fúria dos outros motoristas (alguns “pais de família” dirigem armados), agora, nestas épocas de instabilidades na segurança pública, os profissionais do setor vivem um clima de medo, que foi presenciado pela reportagem. E, se a polícia deveria trabalhar com mais informação para evitar muitos dos ataques, usando seus setores de inteligência, justamente a informação é uma aliada dos motoristas. Foi criada uma espécie de rede entre alguns profissionais de diferentes empresas, de maneira informal, para tentarem saber do que está ocorrendo. Para isso são usados celulares, rádios e até os telefones das garagens de onde são feitas ligações para estabelecimentos comerciais perto do ponto final. Até o fechamento desta matéria, ninguém havia se ferido com gravidade nos ataques a ônibus. “Mas pode acontecer. Vai que o cara está noiado (drogado), sem noção e começa queimar com gente dentro” – disse o cobrador. O ponto final onde ficou a reportagem é relativamente seguro: bairro residencial, ao lado de uma padaria e, mesmo sem ter aparecido nenhuma viatura da polícia, ao menos vigilantes de rua particulares passavam com motos. Mas em pontos finais onde as regiões são mal iluminadas, menos movimentadas e mais desertas, os ônibus nem param, mesmo tendo de cumprir horário. E mais uma vez, o trabalhador, seja motorista, cobrador ou passageiro, fica acuado frente a queda de braço não só entre uma facção criminosa e o Estado, mas a uma situação que envolve muito mais que polícia e bandido. Coincidentemente (ou não), mais uma onda de medo ocorre em época eleitoral em São Paulo. Incompetência e fragilidade do Estado? Claro, senão os trabalhadores não teriam medo. Mas é ingenuidade pensar que tais facções criminosas não possuem contatos com pessoas envolvidas na política. Afinal, crime não compensa, mas dá voto e dinheiro. Publicado em 28/06/2012 por Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes. Blogpontodeonibus

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